domingo, 7 de março de 2010

Aspectos Esquecidos do Feminino

Jornal Universo Feminino . São Paulo
Artigo de Fatima Martins para publicação * Mar / 2010
"Solidão Bacana"
Nesta rua, nesta rua tem um bosque
Que se chama, que se chama Solidão
Dentro dele, dentro dele mora um anjo
Que roubou, que roubou meu coração
Se eu roubei, se eu roubei teu coração
É porque tu roubaste o meu também
Se eu roubei, se eu roubei teu coração
É porque eu te quero tanto bem
(cantiga do Folclore Popular)

A imagem de um bosque onde vive um anjo de bem querer capaz de arrebatar corações é instigante e inspiradora. Serenidade, revelação e força aparecem associadas à psique (alma, coração) como fruto da solidão.

Solidão é uma experiência que constitui nossa humanidade. A singularidade de cada ser humano guarda esse segredo. Interação é o reverso dessa experiência essencial. Solidão e interação tecem a natureza do homem.

Compreendemos que há uma arte para relacionar-se com o outro. Entretanto, às próprias vivências íntimas, geralmente, dedica-se pouca atenção. A solidão - calma da alma - é o lugar próprio para o encontro consigo mesmo. Cultivar esse espaço é buscar a compreensão do próprio ser, enriquecendo a vida interior e desenvolvendo em si força e potência para ir em direção ao mundo com verdadeiro e amoroso interesse pelo outro.

Vivenciar a solidão como um lugar da alma, olhar para si mesmo, interrogar-se, é escolha de cada um. A vida corrente não precisa desses momentos. Cada vez mais o cotidiano contemporâneo funciona de modo a privar-nos desse requinte propriamente humano. O poder material e virtual ocupa, providencialmente, os vazios que pudessem causar algum desconforto e incitar-nos a buscar respostas.

Mas a vida tem seus desígnios e, não raro, precisamos caminhar sozinhos por algum tempo...

Há tempo .... de plantar e tempo de arrancar o que se plantou...tempo de chorar e tempo de rir...tempo de amar, e tempo de aborrecer... (Eclesiastes,3).

Se o tempo é de solidão, considere que é necessário preparar-se para vivê-lo com o coração enquanto espera o tempo seguinte...

...porque onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. (Lc 12.34).

Companheiras da coragem, a calma e a esperança foram lançadas para longe na atualidade instantânea. Individual e coletivamente necessitamos buscar por essas irmãs “esquecidas” da psique, se pretendemos ultrapassar o medo e reconstituir a devastação.


Solidão-de-si é passividade e abandono; um convite ao adoecimento. A solidão que ativa o lugar próprio da alma, gera acolhimento e força para esperar o que está por vir.