A imagem de um bosque onde vive um anjo de bem querer capaz de arrebatar corações é instigante e inspiradora. Serenidade, revelação e força aparecem associadas à psique (alma, coração) como fruto da solidão.
Solidão é uma experiência que constitui nossa humanidade. A singularidade de cada ser humano guarda esse segredo. Interação é o reverso dessa experiência essencial. Solidão e interação tecem a natureza do homem.
Compreendemos que há uma arte para relacionar-se com o outro. Entretanto, às próprias vivências íntimas, geralmente, dedica-se pouca atenção. A solidão - calma da alma - é o lugar próprio para o encontro consigo mesmo. Cultivar esse espaço é buscar a compreensão do próprio ser, enriquecendo a vida interior e desenvolvendo em si força e potência para ir em direção ao mundo com verdadeiro e amoroso interesse pelo outro.
Vivenciar a solidão como um lugar da alma, olhar para si mesmo, interrogar-se, é escolha de cada um. A vida corrente não precisa desses momentos. Cada vez mais o cotidiano contemporâneo funciona de modo a privar-nos desse requinte propriamente humano. O poder material e virtual ocupa, providencialmente, os vazios que pudessem causar algum desconforto e incitar-nos a buscar respostas.
Mas a vida tem seus desígnios e, não raro, precisamos caminhar sozinhos por algum tempo...
Há tempo .... de plantar e tempo de arrancar o que se plantou...tempo de chorar e tempo de rir...tempo de amar, e tempo de aborrecer... (Eclesiastes,3).
Se o tempo é de solidão, considere que é necessário preparar-se para vivê-lo com o coração enquanto espera o tempo seguinte...
...porque onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. (Lc 12.34).
Companheiras da coragem, a calma e a esperança foram lançadas para longe na atualidade instantânea. Individual e coletivamente necessitamos buscar por essas irmãs “esquecidas” da psique, se pretendemos ultrapassar o medo e reconstituir a devastação.
Solidão-de-si é passividade e abandono; um convite ao adoecimento. A solidão que ativa o lugar próprio da alma, gera acolhimento e força para esperar o que está por vir.